quinta-feira, 22 de março de 2012


Especialistas desenham o Rio dos sonhos






Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

Enquanto os cariocas estavam distraídos aproveitando as dunas da Gal,
no início dos anos 70, ou balançando o corpo nos frenéticos dancing
days, já no finalzinho da década, a paisagem da cidade foi mudando sem 
que muitos se dessem conta do estrago. Num ritmo alucinante, que combinava 
mais com a onda da discoteca do que com a paz e amor que reinava nas areias 
de Ipanema,foram surgindo novos elevados e viadutos, que enfeiaram a paisagem 
privilegiada da cidade.

Num exercício de imaginação, estimulado pela decisão do prefeito Eduardo
Paes de pôr abaixo o Elevado do Perimetral, revelando a beleza da Praça
Quinze e arredores, O Globo consultou arquitetos e urbanistas para saber o 
que mereceria também desaparecer, nem que fosse apenas em sonho.

O resultado foi quase unânime: não há quem se conforme com o Elevado
Paulo de Frontin, que, mesmo antes de concluído, já estava envolto numa aura 
de desgraça. Em novembro de 71, 112 metros da estrutura, em fase final de 
construção, desabaram, matando 48 pessoas. Passada a comoção, ele foi 
ampliado e inaugurado, acabando com o ar bucólico e boa parte dos casarios 
do Rio Comprido e, de quebra, levando barulho e poluição para os moradores de
 prédios próximos. Isto sem falar, é claro, na área debaixo do elevado, eternamente
sombreada e onde uma nesga de sol é privilégio bissexto.“O que fizeram foi um 
crime, um agressão a uma área belíssima. Antes do elevado, aquele área parecia 
Petrópolis, com casas dos dois lados e um canal no meio”, diz o arquiteto 
urbanista Nireu Cavalcanti.

O arquiteto Fagner Marçal, mestre pela UFRJ, faz coro:

“O elevado colaborou para aumentar a sensação de sufocamento pelo pedestre,
gerando um corredor expresso de poluição, sujeira, abandono e insegurança. 
Se não é possível a demolição,como acontece com a Perimetral, por que não 
a qualificação daquele espaço? Temos uma infinidade de métodos alternativos de 
iluminação indireta para o espaço sob o viaduto. A criação de um espaço verde 
estimularia a revitalização urbana daquele trecho.

Uma simulação feita pelo Globo mostra como a região ficaria hoje sem o elevado,
apenas com a avenida margeando o canal. O resultado é uma área mais arborizada 
e ensolarada, mais de acordo com o Rio.

Em São Cristovão, especialistas puseram a Linha Vermelha no rol das feiúras cariocas.

“Estes elevados são um horror do ponto de vista estético, mas importantes para a
mobilidade, já que não se investiu adequadamente no transporte público. Mas há 
formas melhores de se fazer as obras, desapropriando uma área maior, criando 
parques em volta. Não pode ter nada grudado nas casas”, diz o arquiteto Pablo 
Benetti, professor da UFRJ.

O prefeito Eduardo Paes não quis entrar na brincadeira. Convidado para apontar os
monstrengos estraga-paisagem, ele se recusou. Talvez com medo de que, já que vai 
derrubar a Perimetral, fique com fama de Pereira Passos do século 21. O que, para 
alguns, até que não seria uma má ideia.

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